Saturday, November 10, 2007

Bagagens...



Em várias aulas, durante a faculdade, ouvi a frase "não somos um vaso vazio". Falavamos sempre em vivências, acúmulos, cultura, tabus, modelos...
Isso me faz pensar sempre nas relações (ou relacionamentos) que vão se somando em nossas vidas...
Quando duas pessoas se encontram trazem consigo todo "capital" de uma vida... coisas que foram resolvidas com o passar dos anos e outras que ainda estão em fase de elaboração... Somos criados em cenários diferentes até o momento do encontro. E é nesse momento, que passada a fase do "encantamento" todos os princípes e princesas podem se tornar sapos. Lidar com as diferenças, com o passado do outro ou o nosso próprio, somar vivências, inteligências, não é como passear por terras desconhecidas. É pior. Pois estar perdido no meio do nada é ainda menos dolorido que estar perdido no meio do "tudo".
Quando vejo um casal idoso na rua, imagino a quanto tempo estão juntos, o que passaram e como superaram todas as barreiras do relacionamento. Quem deu um passo atrás? Quem se colocou a frente? Alguém se anulou? Abstraíram problemas?
Vi um comercial certa vez, de um banco qualquer, em que a esposa cortava tudo que comiam ao meio e impunha ao marido que fizesse o mesmo numa obsessão pela "economia". O marido olhava e apenas cedia... E assim se eliminava o conflito.
A primeira coisa que me veio a cabeça foi porque era a mulher que tolhia o marido? Pela simples lógica machista de que sendo a "economia" uma coisa chata, maçante, ainda que necessária, teria que ser exercida, em casa, pela mulher... (Isso me lembrou a velha frase: "por trás de todo grande homem, existe uma grande mulher". Outra frase de cunho machista... Por que uma mulher precisa estar atrás de um homem afinal? Não é merecedora de estar ao lado... ou mesmo a frente? ). Contestações feministas a parte, vejo nisso um exemplo dos "modelos" impostos pela sociedade e que interferem diretamente sobre nossos relacionamentos amorosos e sobre as bagagens que trazemos para dentro deles.
Existem muitos palcos, existem muitos atores e existem também uma série de textos a serem interpretados... cada qual com um figurino diferente, trazido por cada um dos atores. Mas qual é a peça?
Toda nossa vida aprendemos, ou melhor, fomos educados (podemos dizer também doutrinados ou mais ainda, adestrados) a nos satisfazermos dentro dos limites das convenções sociais. Qualquer passo adiante do modelo social imposto se traduz num desvio de conduta, num passo para a infelicidade. Dentro desse "modelo superperfeito" que nos é imposto, somos obrigados a calar (traumatizar) nossas ânsias, desejos e vivências. E como fica toda a bagagem acumulada desde nossa infância nessa "nova casa" do modelo ideal de relacionamento? Escondida em sotãos, trancafiada em armários. Mas é inevitável que volta e meia o armário se torne insuficiente para guardar tudo e com isso logo haverá roupas espalhadas pela casa. E aí? Como fazer para encontrar todas as peças de roupas? Como arrumar o armário? E o que acontece quando a bagunça da casa fica tão grande que se torna impossível continuar nela? (E aí a galera "sai da casinha" mesmo...)
Voltando ao casal do comercial... o que aconteceria quando o marido achasse que "economizar" tanto e de determinada forma não lhe trouxesse mais nenhuma vantagem, e que seria melhor o prazer de comer o doce até o fim...? Como lidariam com o conflito? Como cada um lidaria com isso? Poderiam simplesmente negociar os dias de comerem o doce até o fim ou de economizar... Mas poderiam também não saber lidar com a frustração do desejo não atendido e daí... Daí, a bagagem acumulada de cada um seria um fator a apontar ou desvirtuar caminhos... incógnitas...! E disso não podemos escapar....

Sejam novamente bem-vind@s ao mundo da Lua... eu voltei!!!


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